Na década passada, ocorreu um fato interessante numa reunião  com o acionista majoritário da companhia, devidamente acompanhado do presidente da empresa, recebi minha primeira e “única” instrução para bem desempenhar meu labor como gerente jurídico: “Não atravanque os processos da minha empresa. Detesto advogado que engessa empresa”.

Restou claro, de imediato, que a função a ser desempenhada não era essencialmente técnica, repleta de retórica e palavras incompreensíveis ao cotidiano da maioria das pessoas. Era necessário conhecer, rapidamente, o core business da empresa e se envolver com os departamentos da mesma.

Ao invés da preocupação com prazos judiciais, tornou-se mais importante o dia a dia com os stakeholders da companhia. Inteirar-se de todos os assuntos que seriam determinantes para um bom desempenho jurídico.

Não era mais imperioso inferir questões técnicas, elaborar teses argumentativas, mas sim, pensar como empresário.

 

Aguardar até o último dia para cumprimento de prazos judiciais deixava de ser uma técnica de fundamental importância. A companhia e seus colaboradores precisavam de celeridade e eficiência para que o resultado final fosse de excelência.

Que mudança radical!

Nem tanto. É bem verdade que há tempos o desempenho da função de advogado estava circunscrita a ajuizamentos e defesas judiciais e administrativas; prevenção de litígios e consultoria. Hoje, todavia, principalmente dentro de empresas, a advocacia requer habilidades que vão muito além do conhecimento único e exclusivo do próprio Direito.

Assim sendo, mister listarmos alguns desafios que um gerente jurídico empresarial deverá enfrentar para se manter no exercício de sua função e alçar novos vôos no circuito empresarial.

O primeiro grande desafio a ser enfrentado pelo profissional que exercerá a função de gerente jurídico é, sem dúvida, buscar e/ou aprimorar conhecimento acerca de gestão empresarial. Isto porque, os advogados não possuem em sua formação básica, adquirida nas faculdades de Direito, tal habilidade administrativa e nem se importam, inicialmente, com isso. Portanto, é fundamentalmente relevante para o advogado corporativo adquirir novas habilidades, pois, indubitavelmente, serão exigidas no decorrer de sua carreira empresarial.

Em segundo lugar, o gerente jurídico deve compreender o negócio da empresa e entender que o departamento pelo qual é responsável é, tão somente, uma atividade-meio capacitadora para que a atividade-fim da empresa seja exitosa. Assim, não basta que o gerente jurídico resolva problemas, mas sim, tome as ações necessárias para evitá-los, bem como, esteja incessantemente antenado às novas oportunidades de negócios.

Outra possível contrariedade é a atuação do departamento jurídico, por vezes detectado no ambiente empresarial, é o preconceito com a figura do advogado, que é visto, diuturnamente, como um obstáculo para realização de negócios. É tido como responsável pelo tal “engessamento” de processos dentro da empresa.

Neste ponto, o gestor jurídico tem de suplantar esse estigma através de uma boa comunicação e amplo entendimento do negócio. Agindo de maneira estratégica, proativa e inovadora, poderá contribuir, decisivamente, na tomada de decisões e no planejamento global dos negócios.

É de extrema relevância para o gerente jurídico o resultado eficiente. Tanto quanto as demais áreas da empresa, o jurídico deve contribuir com resultados positivos, sob pena de tornar-se inoperante.

Nesse ponto é que a tecnologia de informação (TI) se faz extremamente importante como auxiliadora e facilitadora do departamento jurídico. Salienta-se que a TI implementará ferramentas que poderão, efetivamente, auxiliar no mapeamento dos processos internos do setor jurídico da empresa. Neste passo, as ferramentas oferecerão respostas rápidas, seguras e confiáveis, ajudando a interligar matrizes e filiais. Garantirão a gestão de informações em tempo real e de forma precisa.

Dentro desta conjuntura, o essencial para garantir bons resultados é que o gerente jurídico demonstre e convença os diretores, CEO e acionistas da empresa que o departamento jurídico não é um mero centro de custos, mas sim, um fundamental setor de suporte interno para a tomada das grandes decisões da companhia.

Na medida em que trabalha para evitar que maus negócios sejam realizados, que haja perda de valores desnecessária e que patrocina causas para retomada de valores pagos indevidamente, resta claro que o departamento jurídico colabora não só indiretamente, mas diretamente para a lucratividade da empresa.

Existem, por óbvio, muitos outros desafios que o gerente jurídico empresarial deverá enfrentar no dia a dia da companhia, sendo certo que, a partir do momento que tal gestor aprende a enxergar a situação na condição de parte integrante da empresa, além de se colocar no lugar do seu cliente interno, ele terá mais argumentos e compreenderá efetivamente como ajudar.

Assim sendo, você que pretende gerir um departamento jurídico, pense como se fosse o dono da empresa. Tenha em mente a extensão das decisões jurídicas dentro da operação da companhia. Gerentes jurídicos realmente não podem engessar os processos, mas devem ser facilitadores que auxiliam stakeholders eficazmente.

Enfim, um bom gerente jurídico para empresas, bem como consultor de negócios empresariais, financeiros e tributários, necessita de conhecimento amplo na área jurídica e competência na gestão de pessoas, referente a eficiência do atendimento com máxima qualidade na prestação de serviços perante os clientes. Prepare-se. Seja ético e moral. Atualize-se. Informe-se. O desafio se apresenta e somente os mais preparados vencerão!

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